Primeira viagem do curso de Jornalismo da UEPG à uma Terra Indígena aconteceu na véspera da Mostra Cultural Kaingang
Os membros do Foca Foto, junto com outros estudantes de Jornalismo e História da UEPG, visitaram na última quinta-feira (12) a Terra Indígena Faxinal, localizada em Cândido de Abreu. Os universitários tiveram a oportunidade de acompanhar os bastidores da preparação para a Mostra Cultural Kaingang, programada para sexta-feira (13).
Os universitários tiveram acesso a noções de idioma kaingang - com mais de dez vogais -, e assistiram a apresentação de dança e canto. A interação com educadores indígenas e não-indígenas foi importante para entender como se dá o aprendizado bilíngue e como a escola colabora na preservação da cultura. À tarde, os alunos tiveram a oportunidade de ouvir e fazer perguntas para o cacique Adevanil Kregvaj Lourenço.
A viagem à Terra Indígena teve organização geral do professor José Galdino (DEHIS/UEPG) e, em Jornalismo, do professor Ben Hur Demeneck (DEJOR/UEPG). Os anfitriões da visita foram Alexandre Kuaray de Quadros e Regina Kosi. Alexandre e Regina são egressos da UEPG. Ele se formou em Geografia, ela se licenciou em História, depois, ambos concluíram o Mestrado em Estudos da Linguagem da UEPG. Alexandre é indígena Guarani e se mudou para o Faxinal após se casar com Regina, que é Kaingang.
Presidente da associação da aldeia, Alexandre entende que a Mostra Cultural possibilita quem vem de fora conhecer a cultura dos indígenas não pelo homem branco, mas pelos próprios indígenas. “É uma satisfação, porque podemos mostrar como realmente nos organizamos na Educação, Saúde e Segurança”, destaca.
Atualmente, mais de 700 indígenas moram na aldeia. Cerca de 200 alunos estão matriculados nos Ensino Pré-Escolar, Fundamental e Médio. Neste ano, duas estudantes Kaingang do Ensino Médio foram contempladas pelo programa “Ganhando o Mundo”. Cleodimara Rinhprag Tomas e Ana Fernanda Kafej Lucas irão fazer intercâmbio no Canadá durante seis meses.
A escola e o posto de saúde são os outros locais de trabalho disponíveis na Terra Indígena Faxinal. Atualmente, a aldeia possui 19 professores originários. A Língua Kaingang é o idioma falado desde a infância, enquanto o português é ensinado desde o início da vida escolar.
Fleori Kug Vaia dos Santos, 23 anos, trabalha como auxiliar administrativo da escola. Para ele, é muito importante recuperar as tradições do povo Kaingang e fazer com que as crianças tenham orgulho da própria cultura. Fleori entende que, desde a infância, a cultura local deve ser preservada para não ser substituída pelos valores e símbolos da cidade.
A técnica do laboratório de fotografias e participante do Foca Foto, Taís Maria da Cruz, trabalha há 22 anos na Universidade e nunca soube de alguma viagem voltada para alunos de Jornalismo a uma Terra Indígena. “Pudemos vivenciar um dia numa aldeia, ter uma experiência direta com a cultura kaingang”, afirma Taís. Para ela, uma viagem traz conhecimento que não podem ser adquiridos por livros e documentários audiovisuais.
Para a acadêmica do 1º ano de Jornalismo Natália Almeida, que visitou a aldeia, a receptividade foi o que mais lhe chamou atenção na visita. “Eles são muito acolhedores. Não são tanto de falar, mas demonstram o afeto através das atitudes”, revela. A produção artesanal foi outro tópico que foi destacado na visita para Natália.
“O jornalismo brasileiro cobre muito mal as questões indígenas, e os jornalistas em formação dão um passo importante quando conhecem uma aldeia e interagem com seus habitantes. Abrem um novo leque de cobertura em que as fontes indígenas são indispensáveis”, afirma o professor Ben Hur.
A Mostra Cultural Kaingang está na 12º edição em 2024. O evento recebe estudantes do Ensino Fundamental e Médio de Cândido de Abreu. Danças, músicas, artesanato, comidas típicas e idioma são apresentados durante a Mostra.
Texto: João Bobato
Revisão: Laura Urbano
Supervisão: Ben Hur Demeneck
Fotos: Eder Carlos (01-06), Giulia Neves (07-12) e Mafe Sperafico (13-18)