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A beleza no cabelo e nos laços

Anderson Danilo Pereira, 34 anos, já fez e continua a fazer a cabeça de muita gente em Ponta Grossa. Quem o procura para dar um trato no visual não se decepciona. Atencioso e com mãos ágeis, o cabeleireiro entabula uma conversa agradável enquanto finaliza o corte de cabelo de uma cliente. Ao que parece, uma típica cena de salão. Os detalhes do trabalho e a história de Anderson mostram, contudo, que cuidar da beleza exige compromisso, habilidade e sensibilidade para ouvir, criar laços e ser quem se é. Com um sorriso, ele conta que começou a embelezar cabelos há 17 anos, idade que tinha à época. Aos 18 anos, trabalhava em um salão no shopping, onde aprendeu muito sobre a profissão que escolheu e tem prazer de exercer.

De terça à sábado, Anderson faz o trajeto do bairro Uvaranas até o Centro, de ônibus, para a jornada de cerca de dez horas diárias no salão em que atende continuamente desde 2016. Procura chegar sempre antes da primeira cliente para não deixar ninguém esperando. Gostar de planejar a agenda e se organizar para o dia de trabalho com a responsabilidade que o serviço requer. “Nunca me atrevi a fazer coisas que eu não sei fazer. Se eu sei, eu faço, sempre com cuidado, faço testes para ter certeza de que o cabelo aguenta o procedimento, e vejo o que dá para fazer, com segurança”, explica. Preza por um atendimento mais personalizado e gosta de conversar, sem esquecer do cafezinho, muitas vezes acompanhado de um delicado biscoito, que ele gentilmente oferece. “Eu gosto de poder dar atenção, ouvir o que a pessoa tem para me contar. Eu aprendi desde o começo que é importante conversar, ouvir o que as pessoas têm para te falar, o que elas realmente querem”, observa. Não à toa, ele tem clientes de muitos anos. “A gente vai desenvolvendo um laço de amizade e afeto”, comenta, ao falar de vários clientes que acompanhou da infância à vida adulta, e que continuam com ele até hoje. “Ainda ontem atendi uma cliente que a filha dela tinha um aninho quando ela vinha cortar cabelo comigo e agora está com 16. São 15 anos, praticamente, juntos. Eu brinco que via ela correndo de fralda no salão”.

“Gatero”, como o pai, Anderson convive com gatos desde a infância. Cuida de três gatinhas, Luma, 8 anos, Dandara, que “significa ‘rainha, negra, guerreira”, ele frisa, e Benta, ambas de quase um ano, e de um filhote canino, Roque, de 6 meses, “que faz muita bagunça”. Conta que adotou todos, sendo que alguns eram de rua, como Benta, que encontrou em janeiro deste ano, dois dias depois de perder Maurício, o bichano que estava com ele há mais de 10 anos. “Eu estava descendo do ônibus e, como sou devoto, estava com a medalha de São Bento, fiz uma oração. Já perto de casa, achei esse gatinho de rua, então peguei ele no colo”. E por isso deu-lhe o nome de Bento, mas teve uma surpresa: “Fui vendo que o Bento era na verdade Benta!”.

O falecimento da mãe, Marlene, em 2010, o marcou muito. Com 21 anos à época, ele começou a “a enxergar as coisas com outros olhos”, lembra. Passou por um período de luto difícil, mudou de emprego, mas não deixou de exercer a profissão. Dois anos depois, conseguiu ressignificar a perda, fortaleceu a autoestima e conheceu seu companheiro. Revela que, por ter vindo de uma família de mulheres, sempre foi “um menino diferente, mais delicado talvez”. O mundo de Anderson “sempre foi o feminino”, tanto que para ele, “as mulheres eram empoderadas, as que mandavam”. Mesmo assim, assumiu-se tardiamente. “No início da vida adulta, eu tinha muitas dúvidas, eu não sabia quem eu era, tinha receio, um certo medo. Demorei um pouco para me assumir mesmo e me descobrir. Fui ter certeza depois dos 18, 19 anos. Quando conheci o André, aos 22, 23 anos, assumi realmente, a gente foi morar junto”, relata.

Na família, nunca sofreu preconceito, pelo contrário, sempre o acolheram, especialmente a vó Isaura que o apoiou muito. Em alguns momentos da vida, entretanto, sentiu o preconceito vindo de outras pessoas. Nessas situações, o ariano diz devolver para a pessoa na hora. “Não sou de briga, não vou provocar alguém, mas também não deixo passar batido, sou de devolver ‘na lata’. Aprendi a lidar dessa forma, então também nunca baixei a cabeça para esse tipo de coisa”, acrescenta. Situações que não ocorrem no trabalho, “por ser algo voltado, principalmente, ao público feminino”, avalia. Anderson destaca que a relação com as clientes é sempre muito tranquila, há amizade e respeito.

No futuro, quer ser também massoterapeuta. “Queria fazer um curso na área de Estética, então optei primeiro pela Massoterapia, trabalhar com massagem relaxante, terapêutica, estética, mais para proporcionar um momento de bem-estar”. Quando terminar esse curso, pretende fazer outros. “Vou procurar algo que eu consiga conciliar com o trabalho, sempre algo que concilie e some na minha área”, diz com os pés no chão sem deixar de sonhar.

 

Fotos: Cândida de Oliveira

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