O enquadramento de Taís
Há mais de 20 anos, Taís Maria da Cruz, comanda o laboratório de fotografia do curso de jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mesmo nos dias de hoje, em que a fotografia analógica dá espaço às tecnologias digitais, Taís revela o profissionalismo que ultrapassa os quadros da fotografia. A sala dela, a última do corredor do departamento, aguça a curiosidade de qualquer um que atravessar aquela porta. As paredes estampam fotografias de turmas que se formaram, experiências fotográficas dela e dos alunos e muito afeto. A porta da sala dela sempre fica aberta para quem quiser compartilhar conhecimento e também dividir experiências e vivências.
A fotografia nem sempre foi um retrato que fez parte da vida dela. Em 1976, trabalhava como babá da neta de Carlos Jendreieck, proprietário da Foto Carlos. Quando saiu do emprego, foi trabalhar em uma malharia. Era uma época em que o comércio estava decaído e, para não deixar os funcionários sem serviço, os donos distribuíram funções para cada um e Taís ficou encarregada de manter, com uma faca, a calçada livre do mato que brotava pelas frestas do asfalto. No dia em que estava nesse desempenho, Carlos Jandrei, o mesmo que cuja neta Taís embalou no colo, lhe ofereceu um emprego no estúdio de fotografia.
No dia seguinte, Taís deixou a malharia para se dedicar à produção de fotografias atendendo a parte industrial da empresa. E foi nas habilidades entre câmaras e filmes que nasceu a fotógrafa. Tais se afastou do cargo para cuidar dos gêmeos que nasceram prematuros, mas quando as crianças completaram dois anos de idade, outros retratos foram produzidos. Por quase 10 anos, ela permaneceu no Foto Demario na função de gerente responsável pelo laboratório de fotografia.
Para que a vida dela ganhasse outros contornos, ela escutou um burburinho no ônibus sobre o concurso para ser técnico do laboratório de fotografia da UEPG. No último dia de inscrição, Taís disse para o então chefe que tinha uma consulta e foi para o campus de Uvaranas inscrever-se. Taís passou na prova oral, fez seus exames de admissão, pediu demissão do emprego e migrou para a UEPG. Ainda bem que ela enganou o chefe com a estória de consulta, mas, depois de tanto tempo, tal deslize também estaria perdoado pela dedicação e amizade construídas ao longo de todos esses anos em nome da fotografia.
Fotos: Radmila Baranoski