Mãe e filho, separados desde o nascimento, após se encontrarem compartilham a história com alegria
A história da dona Idissel Terezinha de Oliveira e de seu filho, Marcos Roberto Artigas de Oliveira, é inspiradora. Quando entramos na sala em que iríamos fazer a entrevista e vimos os dois sentados nos esperando, pudemos perceber a alegria que os enchia somente pelo fato de estarem juntos após 50 anos separados. “Sabe o que é 50 anos? Ele nasceu em 03 de maio de 1967”, destaca Idissel.
Aos 15 anos, ela engravidou e quando seu pai, Zacarias Artigas de Oliveira, descobriu, expulsou-a de casa e a colocou em um colégio interno, o que era algo considerado normal na época. O colégio se localizava em Curitiba e ela ficou lá até completar os 21 anos. Quando seu filho nasceu, ela foi obrigada pelos médicos a avisar o seu pai que, ao chegar ao hospital, disse que levaria apenas Marcos embora, mas, por conta do juiz, precisou levar Idissel para ficar em casa durante 40 dias. Um tempo após retornar ao colégio, percebeu que estava grávida novamente. De acordo com ela, seus pais nunca souberam que esta criança existia, já que a abandonaram e nunca a visitaram no colégio interno, mas Idissel também não sabe onde ela está.
Quando saiu do colégio interno, foi atrás do filho, mas seu pai a proibiu de vê-lo ou de chegar perto da casa novamente e a expulsaram da cidade. Ela, sem documento algum, perdeu o contato com todos, incluindo sua mãe. Desde então, ela trabalhou de garçonete, lavadeira, cozinheira, dentre outros, para conseguir viver e então procurar o filho. Nas tentativas para achá-lo, mandou carta para diversos programas de televisão, como “Domingo Legal” e “Ratinho” (sendo a última, enviada para esse programa em maio deste ano) que propagavam o encontro de pessoas que tinham perdido o contato.
Recentemente, ela descobriu estar com câncer e, conversando com os assistentes sociais do hospital onde fazia o tratamento, comentou sobre ter um filho, mas não o conhecer. “Eu pedi para eles me colocarem num asilo, pois não tinha quem cuidasse de mim.”, conta. O assistente social do CREAS então a ajudou a encontrar e entrar em contato com o filho. “Eu precisei ter câncer, passar por tudo o que eu passei, procurar até ir para o asilo, para então achar ele”, afirma. “O dia em que eles vieram me falar, que eu vi o carro da saúde lá em casa, e ele disse ‘achei seu filho’, eu quase desmaiei. Eu não consegui falar com ele no telefone, ouvir a voz dele, pois eu nunca tinha ouvido antes”, relembrou a mãe, sorrindo.
Marcos já conhecia a história de uma maneira diferente. Ele achava que a mãe o tinha abandonado e não queria ter filhos e que já estava morta, pois foi o que o seu avô o contou. Quando era mais velho, após seu avô falecer, sua avó contou que, na verdade, a mãe estava viva e tinha ido procurá-lo, mas que seu avô não a tinha deixado vê-lo. Desde então, passou a procurar pela mãe também, com a ajuda de amigos, na internet, entre outros.
Ele foi criado por diferentes famílias. Com dez anos, Marcos era criado pelo seu tio avô e quando ele faleceu, seu avô foi buscá-lo novamente. Após isso, ele não quis Marcos mais em sua casa. “Um dia a gente saiu, lidar com vendas de bebidas e essas coisas. Ele me pediu pra descer, dar uma olhada na roda do carro e ele foi embora“, contou. Uma pessoa estava passando de carro e viu o que aconteceu, ajudou-o e então o levou para casa.
No dia em que ligaram para sua casa, com a notícia de que teriam encontrado sua mãe, ele ficou sem reação. Quando recebeu a ligação, com um DDD de São Paulo, ele conta que não iria atender. “O rapaz se identificou como assistente social e disse que tinha encontrado a minha mãe e que estava com ela na linha. Eu não sabia nem o que falar na hora”, conta o filho, alegre ao lado da mãe. Com o apoio de sua esposa, Arlete Smouter, que foi quem nos apresentou e nos permitiu essa conversa, foram buscar Idissel e a trouxeram para Ponta Grossa, para então viver com eles.
fotos: Hygor Leonardo