Todas as faces
Quem cruzar os corredores do câmpus da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) nas primeiras horas da manhã certamente vai encontrar Fabiana Ribeiro a postos para mais um dia de labuta. Ela integra o time de funcionárias responsáveis pela manutenção do prédio da instituição. Detalhe, sempre com o sorriso estampado no rosto e devidamente maquiada. “Sem um batom, nem saio de casa”, afirma Fabiana, uma leonina, que muito antes das primeiras aparições do sol está de pé para fazer a travessia do bairro da Esplanada até chegar ao centro, percurso que dificilmente é feito em menos de 35 minutos de ônibus. E ela é múltipla, tem muitas faces.
Antes de ser funcionária da limpeza, Fabiana já se aventurou em uma série de expedientes. “Não tive problema de trabalhar. Já fui cabeleireira, diarista, garçonete, até palhaça e peão de obra”, recorda. O ofício de palhaça foi um dos seus sustentos ao dividir a atividade entre a diversão e o atendimento ao cliente de uma rede de fast-food e, com o atual marido, ela era responsável por reformas e consertos em casas. Por passar por tantos espaços, sua vivência poderia servir de argumento a algum filme ou livro de estória. No repertório, ela traz a experiência de um período de vacas magras e de não ter dinheiro para sustentar a casa. Assim, ela sugeriu ao marido solicitar um vale ao chefe para fazer as compras da semana. O pedido foi aceito pelo patrão, as compras foram feitas pela Fabiana e o irmão, mas as sacolas foram esquecidas no banco do coletivo. “Sorte de quem pegou. Hoje dou risada, mas, na hora, não sabia se ria ou chorava”, relembra Fabiana aos risos ao compartilhar a experiência.
Como se não bastasse as privações da vida, ela sofreu um acidente em 2015, numa sexta-feira 13, que a fez repensar a própria trajetória da vida. Superstições à parte, o ocorrido a fez perder alguns órgãos, como o baço, além de comprometer a função de outros tantos temporariamente, além do repouso compulsório na cama. O período de recuperação teve que ser encurtado por conta do sustento das filhas, Maria Eduarda e Maria Helena, hoje com 16 e 10 anos de idade, respectivamente. “Fui mãe e pai ao mesmo tempo. Tive que criar minhas filhas sozinhas”, aponta
Para além da labuta diária e da maternidade das filhas, ela também se dedica ao curso a distância de Educação Física. Não raro, nos corredores e salas que ficam sobre sua responsabilidade, ela está munida de fones de ouvido para acompanhar as aulas do curso. “Daqui 10 anos quero morar numa chácara com um monte de cachorros e minhas filhas encaminhadas”, projeta a mulher que também faz parte do bicentenário de Ponta Grossa.
Fotos: Muriel Amaral