Plataformas digitais ‘moldam’ o paladar e as escolhas de restaurantes pelos consumidores
As redes sociais se tornaram uma ferramenta que auxilia na rotina dos brasileiros ao escolherem os restaurantes onde vão comer. Segundo dados da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 99% dos estabelecimentos brasileiros têm presença nas redes sociais, com destaque para o Instagram, WhatsApp e Facebook. Mais de 60% dos consumidores do Brasil consultam avaliações online antes de fazer sua escolha, e 33% descartam restaurantes com menos de quatro estrelas.
Bianca Lima tem 30 anos e relata que toda vez que sai para comer, geralmente com sua família, e quer um local diferente, procura avaliações de restaurantes, que encontra no Instagram ou no site “Reclame Aqui”. “As avaliações contam muito, por lá vejo o atendimento, se a comida é boa, se o lugar é limpo”. Bianca ainda fala que procura por lugares que indiquem que tenham um espaço kids para que seus filhos possam se divertir.
Os restaurantes utilizam as plataformas para exibir pratos visualmente atraentes e criar um relacionamento mais próximo aos consumidores. Silvia Cordeiro, influenciadora e cofundadora do perfil "Onde Comer PG", que acumula 56 mil seguidores no Instagram, reforça o papel das redes sociais. “Nosso trabalho é dar visibilidade à gastronomia local, mostrando que existem lugares incríveis na cidade. As pessoas confiam muito nas nossas recomendações porque prezamos pela autenticidade e transparência”.
Silvia e seu marido, Willian Cordeiro, começaram a divulgar restaurantes em 2018 e notaram que o impacto de suas postagens vai além de engajar seguidores e gerar resultados diretos para os estabelecimentos. “Hoje, não divulgamos mais de surpresa. Estabelecemos uma agenda para evitar superlotação e garantir que os restaurantes estejam preparados. O objetivo é criar uma experiência positiva tanto para o consumidor quanto para o empresário”, explica.
Para Maiara Clausen, jornalista especializada em crítica de bares e pioneira na área, o impacto da presença online vai além de atrair clientes: trata-se de uma responsabilidade. “Eu já percebi no meu primeiro post que poderia influenciar as escolhas. Desde então, busquei conhecimento em turismo e marketing de influência para ter embasamento. A internet tem poder, e precisamos ter cuidado ao usá-la”, comenta.
Por outro lado, embora influenciadores e avaliações online atraem a maioria dos jovens e adultos conectados, alguns ainda preferem manter métodos mais tradicionais. José Gonçalves, 78 anos, conta que escolhe os mesmos restaurantes há décadas. “Nunca usei redes sociais. Não vejo necessidade, porque gosto de ir onde já conheço. Sempre vou ao mesmo lugar, onde já sei o que quero pedir”.
Já Tereza Almeida, 66 anos, descobriu o mundo das redes sociais com a ajuda dos netos. “Meus netos baixaram o Instagram e me ensinaram a usar. E, agora, quando eu e meu marido queremos experimentar lugares novos, vemos fotos de restaurantes, aqui da cidade, na rede social. É sempre bom variar um pouco para quem está casado há 45 anos e isso nos ajuda a sair da rotina. Agora, sempre dou uma olhada antes de escolher onde vamos. É divertido e prático”, relata, mostrando como as redes sociais podem conectar até mesmo os mais tradicionais a novas experiências gastronômicas.
A jovem Luiza Martins, 16 anos, também representa essa nova forma de consumo mediada pela tecnologia. “Sempre que vamos jantar fora, sou eu quem escolhe o restaurante. Procuro no Instagram os que têm fotos bonitas e boa avaliação. Já indiquei vários lugares novos para os meus pais e eles adoraram”, revela.
Com a forte influência que as redes sociais têm sobre a escolha de restaurantes, os estabelecimentos investem em estratégias que engajam nessas plataformas. Gabriel Ramos, fotógrafo especializado em gastronomia, destaca como imagens bem-feitas nas redes sociais podem ser determinantes na escolha dos consumidores. “Uma boa foto desperta a fome e a vontade. A nitidez, iluminação e a composição do prato são essenciais. Um prato mal apresentado nas redes pode afastar clientes”, explica. Ele também ressalta como vídeos complementam essa estratégia, trazendo movimento e humanização ao conteúdo digital.
Os próprios donos de restaurantes reconhecem o impacto das redes. O Boa Gastrobar, de Ponta Grossa, investe em parcerias com influenciadores locais. “Sempre que lançamos algo novo, chamamos influenciadores gastronômicos. O resultado é impressionante: o movimento aumenta visivelmente”, afirma a assessoria do local. Para o recém-inaugurado Sabor do Verão Petiscaria, o marketing digital tem sido a principal ferramenta de atração de clientes. “Pelo Instagram, mostramos o ambiente, os petiscos e promoções. Em menos de um mês, já temos 600 seguidores e estamos crescendo”, celebra o proprietário Klemerson de Quadros.
Além disso, a influência das redes sociais vai além de posts bonitos. Estudos feitos pelo Blog Review Trackers, site responsável pelas avaliações de muitas empresas pelo mundo, mostram que 71% dos consumidores preferem empresas que respondem rapidamente às interações nas redes. O impacto direto das redes no movimento é um reflexo da confiança gerada por essas plataformas. No entanto, manter a autenticidade é essencial. A crítica gastronômica Maiara Clausen ressalta que transparência e profissionalismo são pilares para ganhar credibilidade. “No começo, fui criticada por ser muito sincera. Hoje, evito publicar críticas negativas, mas sempre dou feedbacks privados diretamente para os donos dos estabelecimentos. O importante é manter a responsabilidade com a informação”, explica.
O papel das redes sociais na escolha de restaurantes não para de crescer. Para os estabelecimentos, ter uma presença digital forte e que atraia clientes é tão essencial quanto oferecer um bom prato. Para os consumidores, a experiência começa antes mesmo de chegar ao restaurante, já moldada pelas avaliações, imagens e interações online. Se, para José Gonçalves, o conforto do conhecido é suficiente, para jovens como Luiza Martins, as redes são uma porta de entrada para descobertas gastronômicas, provando que o digital já ‘molda’ o paladar de boa parte do público brasileiro.
Texto: Radmila Baranoski
Supervisão: Carlos Alberto de Souza
Fotos: Radmila Baranoski