Foto: Divulgação/FC Lugano

CHEGADA EM PONTA GROSSA

Nascido na cidade do Rio de Janeiro no dia 8 de agosto de 1994, Carlos Antônio de Souza Júnior, ou somente Carlinhos, mudou-se para Ponta Grossa, no interior do Paraná, quando tinha 3 anos. O motivo da mudança foi que o pai dele, Carlos Nunes, foi visitar um tio de Carlinhos que morava em Ponta Grossa e sua família gostou da cidade, acabaram encontrando ali uma oportunidade de crescimento de vida e ficaram em Ponta Grossa de forma permanente.


OS PRIMEIROS PASSOS NO FUTEBOL

 

Os primeiros passos do futuro atleta se iniciariam nas ruas do bairro Santa Paula, onde Carlinhos cresceu e passou a maior parte de sua infância: “Dos meus 4 aos 6 anos eu não jogava bola em clube ou escolinha. Eu jogava na rua, no chão de terra, jogava na pedra, descalço, e tudo não passava de uma brincadeira”, conta o jogador.

A primeira oportunidade no futebol surgiu ao acaso. O pai de Carlinhos jogava o Campeonato de Futebol Amador de Ponta Grossa, e o pequeno Carlinhos, com apenas 6 anos, acompanhava-o durante as partidas. Ao término dos jogos, Carlinhos entrava no campo e ficava batendo bola, brincando, “coisa de criança mesmo”, como ele conta. Até que em uma dessas brincadeiras um diretor do Clube Verde se interessou pelo futebol do garoto e conversou com seu pai para ele entrar na escolinha de futsal do Verde, convite o qual foi aceito por seu pai e pelo próprio Carlinhos. Depois disso, Carlinhos entrou na escolinha de futebol de campo do Santa Paula e passou a treinar nos dois lugares simultaneamente. O treinador de Carlinhos na escolinha de futsal do Verde era o Claudio Schleder, carinhosamente conhecido em Ponta Grossa como “Leitão”. Por coincidência, Leitão também trabalhava como professor de Educação Física no Colégio Sant’ana, e ao observar o desenvolvimento e o destaque de Carlinhos no futsal, convenceu a Irmã Maria Luiza, diretora do colégio na época, a dar uma bolsa de estudos para o garoto jogar futsal pelo Sant’ana quando ele tinha 8 anos de idade, onde ele estudou da 3ª até a 6ª série do Ensino Fundamental.


OPORTUNIDADE NO SÃO PAULO

Em um determinado dia, quando tinha 11 anos, Carlinhos foi jogar um campeonato em Curitiba pela escolinha do Santa Paula, que era uma filial da escolinha do Paraná Clube. O jovem atleta se destacou e foi convidado por um olheiro a fazer um teste no São Paulo. Mais uma vez guiado pelo seu talento, Carlinhos fora aprovado na base do time paulista. Entretanto, ele não pôde se mudar para São Paulo e morar sozinho no alojamento da categoria de base do clube por conta da Lei Pelé, que permite que atletas sejam alojados sozinhos nas categorias de base de clubes somente a partir dos 14 anos. Então, a alternativa sugerida pelo clube seria de que Carlinhos teria que se apresentar a cada 2 meses no centro de treinamento da categoria de base para que os treinadores pudessem analisar o futebol do jovem. Com isso, a cada 2 meses Carlinhos ia até São Paulo e ficava durante 1 semana treinando com os outros garotos da base, para poder fazer uma espécie de processo de adaptação e para os treinadores do clube observarem o progresso dele dentro de campo.

Quando chegou na 6ª série, Carlinhos se mudou para o Sagrada Família e começou a treinar futsal com o técnico Gegê. “O Gegê foi um paizão pra mim, ele me ensinou a não ficar mais de palhaçada, porque eu era muito, não vou dizer indisciplinado porque eu era criança né, mas muito bagunceiro, eu era muito bagunceiro, e quando eu cheguei no Sagrada eu comecei a ter mais noção das coisas”, conta o jogador. Com a chegada no novo colégio, a rotina de treinos de Carlinhos ficou ainda mais cheia: Ele estudava de manhã, a tarde treinava futsal no colégio nas terças e quintas e treinava futebol de campo no Santa Paula na segundas e quartas. No período da noite, Carlinhos ainda continuava treinando no Clube Verde nas terças e nas quintas. “Minha semana de treinos era sempre cheia, às vezes ficava só um dia da semana sem treino, era muito bom”, lembra. O período escolar de Carlinhos no Sagrada foi até a 7ª série, quando ele se mudou para São Paulo no final do ano.


A CHEGADA NO PARANÁ CLUBE     

Após pouco tempo no São Paulo, um dos diretores técnicos da equipe paulista recebeu uma oferta para trabalhar como gerente geral da categoria de base do Paraná Clube. Sabendo da saída de Carlinhos da base do clube paulista, o gerente ligou para o garoto e fez uma oferta para que ele fosse para o Paraná Clube. “Na semana que eu fui dispensado ele me ligou e fez o convite, então eu vim pra Ponta Grossa numa segunda-feira, fiquei segunda e terça em Ponta Grossa e na quarta a noite fui para Curitiba. Na quinta de manhã eu fiz um treino e na sexta eu já estava assinando meu contrato de aprendiz com o Paraná Clube”, conta Carlinhos.


VIDA NO ALOJEMENTO DA BASE

Carlinhos ficou de 2009 a 2013 na base do Paraná, dormindo, comendo e vivendo nas dependências do clube. “Eu vivi a experiência de viver num alojamento, na base de um clube, onde tem mais uns 70 garotos com o mesmo sonho que você, mas foi muito bom, foi muito prazeroso, foram coisas que fizeram eu crescer na vida”, lembra. “Foi o momento meu em que eu criei uma maturidade absurda por estar longe da minha família, mas onde eu fiz grandes amigos. Foi um período que me fez crescer muito como pessoa, como atleta, melhorei muitos pontos e me calejou pra vida”, afirma Carlinhos.  


PROMOÇÃO PARA OS PROFISSIONAIS

Em 2013 o garoto de apenas 18 anos foi promovido para os profissionais no Campeonato Paranaense e fez gol logo em sua estreia, no último jogo do primeiro turno do campeonato, contra o Paranavaí, marcando o gol da vitória paranista na ocasião. “Eu estava em um bom momento na base, sabia que ia ser promovido pro profissional porque eu vinha jogando bem e quando voltamos da Copa São Paulo eu fiquei só 5 dias em casa descansando e já me apresentei pra treinar com os profissionais, aí o Toninho Cecílio (técnico do Paraná na época) me chamou pra começar de titular no último jogo do 1º turno, contra o Paranavaí. O jogo estava 1 a 1, no final do 2º tempo, aí o Aymen (atacante francês que jogava no Paraná Clube) cruzou uma bola da direita e eu consegui marcar o gol de perna esquerda. Foi só alegria, fui pra casa realizado”, conta.

Após ser promovido, Carlinhos deixou o alojamento e conseguiu se mudar para um apartamento para morar sozinho. “Foi onde eu encontrei um pouco mais de liberdade, conheci um pouco mais do habitat fora do alojamento, com uma vida com mais responsabilidade, mais controle, mais comando, tive que me virar”, relata. Para o 2º turno do campeonato, o Paraná tinha chances de chegar nas finais, o que acabou não acontecendo. Porém, o técnico Toninho Cecílio apostou nos garotos da categoria de base para tentar alcançar tal feito. O resultado final foi que Carlinhos jogou 12 partidas no campeonato e fez 6 gols, terminando o Estadual como artilheiro do time paranista na competição. Com isso, ele ganhou moral para a sequência da temporada. Entretanto, o técnico Toninho Cecílio foi demitido e trouxeram Dado Cavalcanti para ser o treinador paranista na série B de 2013.

FALTAS DE OPORTUNIDADES, SALÁRIOS ATRASADOS E DESCONFIANÇA DA TORCIDA

Com a chegada de Dado, o jovem atacante perdeu espaço na equipe e sofreu com as faltas de oportunidade no Campeonato Brasileiro. “Eu joguei só os primeiros três jogos do campeonato, mas continuei treinando e me dedicando, só que quando o jogador fica sem jogar ele fica sem ritmo de jogo e isso é a pior coisa que existe pra um jogador, porque um jogador que joga todas as partidas fica em alto nível, mas eu sofria com falta de ritmo sem sequência, foi muito difícil”, lembra Carlinhos.

Além das faltas de oportunidades, Carlinhos sofreu com outras situações difíceis dentro do clube. “Eu sofri com muitos altos e baixos, mas eu estava num clube que não sabia como conduzir a situação com um jovem que sobe da base pro profissional, que não tem alguém pra realizar aquele trâmite entre diretoria, técnico e torcida pra abraçar o jogador, eu acho que eles deixaram um pouco a desejar nesse sentido, por isso talvez eu tenha vivido meus momentos mais difíceis tão jovem na minha carreira”, lamenta. Carlinhos ainda lembra das dificuldades que passou com os atrasos de salários no clube curitibano. “O Paraná sofreu muito com falta de pagamento, salário atrasado, e tudo isso pra um guri novo igual eu era difícil, porque eu não ganhava bem, ganhava pouco, morava sozinho, salário 3 ou 4 meses atrasados. Eu tinha minhas contas pra pagar, por mais que eu fosse novo, eu já tinha minhas responsabilidades. Quando eu recebia um salário, eu segurava o máximo que eu podia porque eu sabia que ia ficar mais uns 3 ou 4 meses sem receber de novo. Era difícil, uma situação delicada”, lembra Carlinhos.

Além de tudo, o jogador ainda sofreu com a desconfiança da torcida. “Eu tive que superar a desconfiança da maioria, porque eram poucos os torcedores que tinham apreço por mim, não é fácil você nem entrar em campo ainda e o torcedor já estar te xingando, mas é um pouco da cultura do brasileiro, né? Hoje em dia o brasileiro quer ser jogador de futebol e não consegue, aí quer ser treinador, mas na arquibancada, ou seja, muitas vezes o torcedor não entende o lado humano do jogador”.

PERÍODO NO BOTAFOGO-PB

Após 3 temporadas no Tricolor da Vila, o contrato de Carlinhos terminou no final de 2015. Com isso, ele assinou contrato com o Botafogo-PB no início de 2016, onde ficou por uma temporada. “Fiz um excelente ano no Botafogo da Paraíba, cresci muito no aspecto tático porque trabalhei com um treinador que é o Itamar Schulle, que me fazia defender, marcar individual, marcar o lateral do adversário, então cresci muito como um externo alto, que é um ponta esquerda no 4-3-3”, lembra. No time paraibano Carlinhos ficou de fora de somente 6 partidas no ano, fez 4 gols em 28 jogos e foi peça fundamental no esquema do técnico Itamar Schulle.


O ESTRELATO EM SOLO EUROPEU

O contrato de Carlinhos com o Botafogo-PB terminou no fim de 2016 e no início de 2017 ele assinou com o FC Lugano, da Suíca. “Cheguei aqui desconhecido, sem valor nenhum, muitas dúvidas de todos os lados, e de 2 anos e meio pra cá mudou totalmente de patamar minha vida tanto dentro de campo quando fora de campo, tanto na minha vida pessoal quanto na minha vida profissional”, comemora. “Hoje sou um dos principais jogadores do campeonato, nos primeiros 6 meses fiz 4 gols em 14 jogos, jogando a maior parte após sair do banco, no segundo ano fiz 14 gols em 29 jogos e no terceiro ano fiz 14 gols em 28 jogos”.

Disputando a quarta temporada com a camisa do FC Lugano, o brasileiro foi especulado em grandes clubes europeus na última janela de transferências, como Porto de Portugal, Fenerbahce da Turquia e Fiorentina da Itália, entretanto, o clube suíço não liberou sua saída.


DIFERENÇA DO CARLINHOS DE HOJE PARA O CARLINHOS DA INFÂNCIA EM PONTA GROSSA

De uma casa simples no Santa Paula para um apartamento em Lugano, na Suíça. A vida de Carlinhos mudou totalmente nos últimos 20 anos. “Antes eu só me divertia na rua de terra, de pedra, jogando bola descalço com os amigos da rua, hoje eu jogo em grandes estádios, joguei a Europa League. O que mudou na minha vida foi que hoje eu ‘to’ vivendo um sonho e que tudo aquilo que eu vivi lá atrás me serviu de aprendizado para o que eu sou hoje. Cada momento que eu passei, cada situação que eu vivi me fez forte, me fez corajoso, me fez ficar atento com as voltas que o mundo dá e acho que tudo aquilo que eu passei foi do jeito que tinha que acontecer, porque hoje em dia eu vejo a pessoa que eu me tornei, o jogador que eu me tornei, graças aos momentos que eu vivi no passado, então foram ciclos que me fizeram chegar aonde eu ‘to’ hoje, se não tivesse acontecido nada disso na minha vida talvez eu não estaria no patamar que eu ‘to’ hoje, então as experiências que eu vivi me fizeram ser esse Carlinhos que eu sou hoje”, finaliza.