Mesmo vencendo o primeiro jogo em casa pelo Campeonato Brasileiro 2025, clima no Operário é de indignação
Em jogo marcado pelo racismo, o Operário Ferroviário venceu o América-MG por 1 a 0 com gol de Boschilia. A partida válida pelo Campeonato Brasileiro Série B aconteceu no Estádio Germano Krüger, em Ponta Grossa, no último domingo. O Fantasma teve mais volume de jogo, saiu vitorioso e 3 pontos de distância do 17°. colocado. No entanto, o acontecimento mais relevante do duelo foi a acusação de racismo sofrido por Allano, jogador do Operário.
O ínicio de jogo alvinegro animou a torcida, que via o time da casa não deixar o adversário ter oportunidades. Logo aos 6 minutos, Boschilia abriu o placar com uma bela finalização de fora da área. A equipe de Vila Oficinas mandava no jogo até por volta dos trinta minutos do primeiro tempo, quando o ala Allano afirmou ter sofrido ataques racistas do jogador Miguelito, do América-MG. O árbitro da partida, Alisson Sidnei Furtado, interrompeu o jogo e executou o protocolo antirracismo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que ocorre em três etapas. A primeira é a paralisação imediata da partida. Caso o ato continue, a segunda etapa deve ser a retirada de jogadores e dirigentes do campo. Por fim, caso os atos de violência permaneçam, a partida deve ser abandonada.
A partida reiniciou após quase 15 minutos de espera, sem posicionamento do árbitro ou um cartão para o jogador do América, que seguiu normalmente em campo. Pouco antes do retorno do jogo, um torcedor do Fantasma foi retirado do estádio pela polícia após arremessar copos de cerveja, cuspir e ofender os jogadores do time visitante que estavam no banco de reserva.
O treinador do Operário, Bruno Pivetti, quis tirar o time de campo. No entanto, após conversar com Allano, decidiu continuar a partida por conta do posicionamento omisso do árbitro. A primeira metade do jogo continuou sem emoções ou oportunidades de gol; durante a descida para o vestiário, a equipe de arbitragem e o jogador do Coelho ouviram vaias dos torcedores presentes.
Já na segunda etapa, o Operário continuou dominando a partida, mas sem muitas oportunidades claras. O América chegou a chutar a gol duas vezes, mas parou em Elias. Já no fim da partida, aos 88 minutos, Kauã Diniz recebeu o segundo cartão amarelo após falta em Neto Paraíba e foi expulso de campo.
O torcedor do Fantasma, Victor Haile, relata a indignação com a arbitragem. “A única coisa triste desse jogo foi o ato de racismo e a arbitragem que, mesmo com a denúncia, não puniu o jogador”, desabafa o torcedor. Apesar da reclamação, Vitor entende que o Fantasma fez um bom jogo.
O treinador do América-MG, Willian Almeida, afirma que todas as pessoas cometem erros e que acredita no seu jogador. “No final, todo mundo tem telhado de vidro, todo mundo erra, pode até ter acontecido, espero que não, mas o efeito manada que aconteceu foi tão ruim quanto”, diz. Já o treinador do Operário, Bruno Pivetti, relata a indignação pela impunidade do agressor e cobra que sejam tomadas as medidas necessárias. “Fui obrigado a ver o jogador debochando e provocando ainda mais, vi o banco (de reservas) deles protegendo o jogador, uma sequência de procedimentos absurdos”. Pivetti ainda completa, “Espero que seja um caso que repercute e gere reflexões como sociedade”.
Após o fim da partida, Miguelito foi conduzido junto com Jacy e Allano até a 13ª. subdivisão da Polícia Militar para prestar depoimento. Miguelito foi preso em flagrante pela prática de injúria racial na madrugada do dia 05, com pena de até cinco anos de reclusão. Enquanto isso, a Polícia Civil investiga os ângulos de filmagens para tentar concluir o inquérito. Na tarde de segunda-feira, Miguelito deixou a prisão após decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR), que concedeu liberdade provisória.
O Operário volta a campo na quarta-feira (20) para tentar a classificação à próxima fase da Copa do Brasil contra o Vasco da Gama, no Estádio São Januário.
Texto: Matheus de Lara e Larissa Viero
Revisão: João Bobato
Supervisão: Paulo Rogério de Almeida
Fotos: Matheus de Lara (01-10) | Larissa Viero (11-20)