A fotografia pode ser responsável por trazer emoções conflitantes em nós. Acabei descobrindo isso da melhor forma neste trabalho. Este portfólio aborda um colégio “antigo” de Ponta Grossa, demolido em 2024: o Colégio Estadual Colônia Dona Luiza (CDL). Há uma chance de você não conhecer o colégio ou de reconhecer o terreno com outros nomes. Há, também, a chance de este texto virar um registro da minha história pessoal.

Resumindo a história, o CDL foi fundado em 2012 e compartilhou os andares do antigo Seminário Verbo Divino, em frente ao cemitério do bairro, com o Centro Estadual de Educação Profissional de Ponta Grossa (CEEPPG). O primeiro e o quarto andar, além do pátio interno, eram administrados pelo CEEPPG, enquanto o Colônia cuidava do segundo e do terceiro andar, além do jardim em frente ao prédio.

Decidi fotografar os restos das estruturas, pois o Colônia foi o colégio em que estudei durante os meus três anos de ensino médio, entre 2019 e 2021. Das memórias que tenho, os professores de lá eram excelentes. É fácil não gostar de um professor pela matéria que ele leciona, mas com o passar do tempo, entende a competência deles. A direção do colégio também merece ser mencionada, pois o investimento estadual era escasso para suprir todas as necessidades. Mas, como bons brasileiros, faziam muito com pouco. 

Diferente dos demais colégios públicos, cujos prédios são construídos para abrigar instituições de ensino, os dois colégios enfrentavam recorrentes problemas de infraestrutura, pertencente ao seminário desde 1940. Assim, parte do investimento recebido era destinado a reformas. Nos anos em que estudei lá, vi pelo menos quatro obras diferentes, sem contar o período de quarentena causado pela pandemia da Covid-19.

Algo que só os dois colégios poderiam proporcionar era uma certa rivalidade entre os alunos. Um verdadeiro experimento social, quando visto sob outra ótica. É normal existir aquela disputa de “meu colégio é melhor”. Mas, naquele prédio dividido, era curioso observar os alunos do CDL com certo “nojo” ou “inveja” dos estudantes do ensino profissionalizante do CEEP. Ao mesmo tempo, os alunos do CEEP olhavam para os estudantes do CDL com desdém ou julgamento. Comportavam-se como se fossem pessoas de classes sociais opostas em uma sociedade ampliada.

Naquele colégio, assim como na adolescência de todos, meus gostos foram moldados. Fiz amizades que, em especial na pandemia, foram essenciais para a minha vida. Comecei a praticar esportes que acompanho até hoje e aprendi coisas que não se ensinam nas salas com um giz no quadro-negro. Um exemplo disso é que, por sorte do destino, minhas salas nos três anos foram no terceiro andar. Entre as aulas, era relaxante observar o centro da cidade pela janela. Meu palpite é que foi daí que eu adquiri o gosto de apreciar horizontes ao longo da minha vida.

Mas, infelizmente, a vida é feita de etapas e ciclos. Após concluir o ensino médio, deixei de ter notícias do CDL já que estudava no campus Uvaranas e me mudei para perto de lá. A demolição do colégio não foi noticiada em diversos sites. Logo, não fiquei sabendo que o colégio foi demolido em 2024. Quando consegui a minha vaga no curso de Jornalismo nesta Instituição, precisei retirar meu histórico escolar para a matrícula. Imagine, então, minha surpresa ao descobrir que o colégio não apenas estava fechado, mas também demolido.

Quem estudava no CEEP teve a sorte do colégio ser transferido para o antigo prédio do Colégio São Francisco. Mas, este que vos escreve, precisou ir até a Escola Estadual Alberto Rebello Valente, localizada no D.E.R. 

Depois que entrei no Curso e no Projeto Foca Foto, voltei a morar na região do antigo CDL. Passar todos os dias em frente ao terreno vazio me acendeu uma curiosidade de ver o que sobrou daquele espaço que fez parte da minha vida. Então, peguei uma câmera e fiz os registros que vocês podem conferir. 

A cada foto tirada, lembrava uma história em cada metro quadrado em que estava. Via-me com 16 anos novamente, rindo com amigos, reclamando de provas e correndo contra o vento naquele lugar. Esse vento ainda batia em meu rosto com a câmera e me trazia essas memórias boas daquele lugar tomado por natureza. 

Se você gosta de The View Between Villages do Noah Kahan, entenderá o sentimento de tirar fotos de um lugar que, um dia, já foi um colégio cheio de vida. A vontade é de viver aqueles dias novamente, mas “sabendo aproveitar” desta vez.

Meu nome é Matheus Fornazari Assmann, sou estudante do primeiro ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa e faço parte do Projeto de Extensão Foca Foto.

P.S.: Este portfólio também é dedicado às pessoas que frequentaram o Colégio Colônia Dona Luiza, alunos ou educadores. Além de perdemos contato com nossas antigas companhias, perdemos as memórias de pessoas que davam vida para aquele colégio pouco lembrado, como a da pedagoga Jaqueline, sempre nos nossos corações.

Texto: Matheus Fornazari

Revisão: João Bobato

Supervisão: Paulo Rogério de Almeida

Fotos: Matheus Fornazari (01-10)

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